Por Cris Zanata*
As organizações são frequentemente dirigidas segundo o modelo vertical, definido pela divisão do trabalho, especialização e hierarquia, tendo em vista a necessidade da delegação das atividades, bem como o controle sobre elas.
Esse modelo de estrutura pode trazer resultados excelentes, desde que exista um ecossistema de colaboração, respeito e engajamento entre as pessoas e um ambiente aberto à solicitação e recebimento de ajuda.
Quando se fala sobre a Cultura da Generosidade nas organizações é preciso desconstruir a ideia de que a generosidade se resume em fazer tudo para e pelos outros(as), doando 100% do seu tempo, da sua energia e da sua ajuda.
De acordo com o professor e psicólogo Adam Grant, reconhecer que o seu tempo tem muito valor e que é impossível dizer “SIM” para todos(as) e para tudo é o primeiro passo para compreender que ser generoso(a) não se resume em atender a todos os pedidos o tempo todo.
Você só pode ser generoso com os outros quando aprender a ser generoso(a) em primeiro lugar com você mesmo(a).
Em seu livro “Dar e Receber”, Adam Grant traz um novo conceito sobre a generosidade, traduzido para o português como “Alterismo”, que se trata de uma prática de doação consciente, isto quer dizer, é você ajudar outras pessoas sem prejudicar suas decisões e seus próprios interesses.
Ser uma pessoa alterista não significa você se dedicar 100% do tempo a outras pessoas ou fazer tudo pelos demais. Ser alterista é ter a certeza de que os benefícios da doação irão superar os custos de seus esforços, ou seja, a sua ajuda valerá a pena não somente para o outro(a), mas também para você.
Pesquisas realizadas pela Universidade de Harvard demonstraram que doadores alteristas produtivos apresentam 3 grandes características fundamentais:
sabem como ajudar;
quando ajudar;
e a quem ajudar.
Mas para que isso aconteça, é preciso criar nas empresas espaços generosos de cooperação entre as pessoas, onde a vontade de ajudar, o respeito aos limites do outro e aos seus próprios limites e a atenção para as ações de diversidade, equidade e inclusão se torne uma dinâmica natural e cultural.
Isso até parece óbvio, mas não é.
De acordo com as pesquisas realizadas pelo professor Adam Grant, 19% das pessoas nas organizações são tomadoras (egoístas), 56% são compensadoras (fazem para o outro intencionalmente) e somente 25% são doadoras.
Estes dados refletem a insatisfação e o esgotamento dos doadores com seus trabalhos e a necessidade de mudança de mentalidade comportamental urgente nas organizações.
Inúmeras pesquisas indicam que equipes diversas são mais inovadoras e mais criativas. Porém, para que estas pessoas possam inovar e criar, sem medo de errar, elas precisam saber para quem podem pedir ajuda.
O que motiva as pessoas a desenvolverem suas ideias é a conexão, a lealdade, a confiança e o ambiente seguro que se estabelece entre elas.
Pessoas diferentes têm histórias de vida, habilidades, conhecimentos e experiências distintas e quando estas pessoas trabalham em ambientes generosos, elas se sentem confortáveis e seguras para compartilharem suas histórias e é isso que constrói valor para a empresa e indivíduos.
Em agosto de 2022 a GPTW, “Great Place to Work” (Melhores Lugares para se Trabalhar), que certifica e reconhece os melhores ambientes de trabalho em 109 países ao redor do mundo, lançou o destaque de saúde emocional em mais de 6.000 empresas e foi descoberto que a característica que diferenciou as melhores empresas em relação à sua liderança foi a GENEROSIDADE.
E o significado da generosidade nesta pesquisa estava totalmente conectado com a partilha de conquistas e erros.
Mais do que nunca é preciso redefinir o conceito de liderança, para que todas as pessoas da empresa estejam engajadas na construção de espaços generosos, onde os limites são respeitados, para transformar intenções de diversidade, equidade e inclusão em ações genuínas, gerando produtividade sem impactar a saúde emocional de suas pessoas.
O InsAB (Instituto de Alterismo do Brasil) é o primeiro Instituto no Brasil a relacionar o tema generosidade, com produtividade, saúde mental e emocional e diversidade e seu trabalho é preparar as empresas para que as ações desenvolvidas tenham impacto real e duradouro com altos índices de engajamento.
Quando empresas e líderes compreendem o real significado da generosidade alterista e começam a aplicá-lo diariamente por meio de ações estratégicas e estruturadas, os resultados aparecem, pois o ambiente fica aberto à solicitação e recebimento de ajuda, reduzindo os conflitos e aumentando a energia e a empatia.
*Cris Zanata é fundadora do Instituto de Alterismo do Brasil (InsAB), Conselheira de diversidade, equidade e inclusão na RSU Lixo Inteligente e mestranda em Gênero e Diversidade pela Universidade de Oviedo, na Espanha. Trabalhou durante 15 anos em cargos de liderança em Big Four e empresas do setor privado na área de impostos aduaneiros e logística, alcançando o cargo de diretora global de logística em uma empresa de energia renovável espanhola. Atualmente é pesquisadora sobre a relação entre gênero e generosidade nas organizações.
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